terça-feira, 3 de setembro de 2013

Debaixo das árvores que choram

Eu ouvi tantas historias, eu revivi a parte mais importante da minha própria, eu dei a luz novamente à minha filha.
Conheci personagens fascinantes, mães sofridas, morando em casa alheia há dias, meses, com suas crias em estado de alerta, preparadas para um novo parto ou a partida, um gosto de incerto constante no ar.

Ouvi um incesto entre tio e sobrinha, como ela ria, como contava de alma alegre a paixão pecadora, proibida.

A louca que ali vive. Uma vida toda, que dorme todas as noites sobre os bancos de concreto frio. Com seus cobertores, dados. Fala com muitas pessoas que somente ela vê, às vezes sorri, às vezes grita e passa assim seus dias, brigando com o invisível. Vestindo-se de homem para não agredirem sua feminilidade.

Os homens de preto, que tem por profissão e obrigação não ver o lado humano, a dor de quem sofre, apenas seguem o caminho da burocracia, o que importa são os crachás dependurados ao peito, não importando se por trás dele bate um coração ou há um vazio.

Nos bancos frios derramei muitas lágrimas, olhando o trabalho das incansáveis formigas, que todos os dias religiosamente subiam e desciam, com pétalas de todas as cores, fazendo uma trilha colorida de trabalho à caminho de casa. Sem se importar com a fumaça saindo de bocas angustiadas pela apreensão.

Enquanto dentro de mim, minha filha sentia dor. Dor que eu sentia, no rosto que ganhou novas linhas, nos fios brancos que apareceram. Apreensão e dor.

Dentro de mim o parto se fazia, tempo incerto do nascimento.

A alegre mulher que parece ter sido colocada de propósito a espalhar sorrisos e arrancar sorrisos de rostos tristes e cansados. Fotografei-a quero a lembrança desse sorriso sempre, em momentos de tristeza.

O paciente que no momento da alta fez a enfermeira cumprir a promessa feita dias antes e a convidou para dançar. Num quarto com mais pessoas acamadas, os dois ao som de uma musica bem baixinha, provavelmente vinda de um celular, dançaram um samba rock, momento de alegria, no quarto. Fui testemunha e pude sorrir com a alegria alheia.

De um anjo que estava no mesmo quarto que minha filha. E, num dos momentos de maior angústia, ela me fez respirar, acalmar. Respira, apenas respira e entrega. Obrigada Vera de verdade.

Enquanto minha filha se refazia com a ajuda dos homens e todas as preces a Deus, meus sentimentos vieram à tona, lembranças de dores, momentos vividos no passado em mim se fizeram presente, hora de resgatar a mim mesma acima de tudo. Nesse momento o destino se repete, para que, dessa vez o perceba, sinta e cresça. Sim entendi.

As árvores continuam a chorar, sei que muitas mães nesse momento estão lá, na expectativa que me atravessou por dias. Destinos a cumprir. Rezo por elas.

Hora de dar a luz novamente. E minha vida se refez minha filha outra vez. Dentro de minhas entranhas já em idade adolescente veio à luz, minha filha está bem... Dias de aprendizado.
  
Aqui do meu lado no aconchego da minha casa, na minha cama, beijo minha cria. Como é linda minha filha!!

domingo, 1 de setembro de 2013

O pouso não é pacato

Quando caiu sobre o mundo a ferro puxado,  olhou assustado, doía-lhe as têmporas. Assustou-se com o olhar esbugalhado de tantas caras sorridentes. Ele ali todo pelado, resultado de ato inconsequente. Os gigantes a mostrar-lhes os dentes, coisa que nem tinha, sabia-se banguelo nessa vida.
Sentia-se um cadáver acordado, estava antes em mundo mais confortável.
Mas já que aqui havia sido jogado. Iria esperar nascerem os dentes (o que achava de extrema importância), para morder a realidade desses que tinham o seu cordão, cortado.

De tantas que sou

Eu já fui da razão a loucura com intervalos de goles de café amargo, para combinar com a poesia que o momento pedia. Engraçado como a vida parecia eterna nesses momentos. Nesse desajuste do tempo. Ou haveria de ser meu? O desajuste? Sempre culpa-se algo.
Culpo a estrada. As placas não estavam certas, ou será que não li direito... O fato é que segui aquele caminho como se meu fosse por direito adquirido, com carimbo de viagem.
Regras existem para serem quebradas! Quebrei-as, dei voltas e voltas e descobri que
Eram só isso, voltas!

Estou na loucura novamente, mas dessa vez, da vida. 
Um café, por favor, mas dessa vez com açúcar.